A Ilusão do Sufrágio Universal

Bakunin1

Segue para leitura:

“Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal
garantia a liberdade dos povos. Mas infelizmente esta era uma grande
ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e à
desmoralização do partido radical. Os radicais não queriam enganar o povo,
pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios
foram enganados. Eles estavam firmemente convencidos quando prometeram ao
povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por essa
convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos
aristocráticos estabelecidos. Hoje depois de aprender com a experiência, e
com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus
princípios derrotados e corruptos. Mas tudo parecia tão natural e tão
simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam
diretamente de uma eleição popular, não se tornariam a pura expressão da
vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem estar entre a
população?
Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um
governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode
representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o
povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a
maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor
organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de
qualquer organização política ou de poder, já que toda organização
política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos
do povo. Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores
das leis, são diametricamente opostos por estarem numa posição
excepcional.
Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções,
atingida uma certa elevação de posto, vêem a sociedade da mesma forma que
um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há
igualdade. De um lado, há o sentimento de superioridade, inevitavelmente
provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do
professor, exercite ele o poder legislativo ou executivo. Quem fala de
poder político, fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande
parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam
os que dominam, enquanto estes não têm outra escolha, a não ser subjugar e
oprimir aqueles que dominam. Esta é a eterna história do saber, desde que
o poder surgiu no mundo. Isto é, o que também explica como e porque os
democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os
conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Tais retratações
são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro. A causa
principal é apenas a mudança de posição e, portanto, de perspectiva.
Na Suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é
completamente diferente e separada da massa dos governados. Aqui, apesar
da constituição política ser igualitária, é a burguesia que governa, e é o
povo, operários e camponeses, que obedecem suas leis. O povo não tem tempo
livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia
tem ambos, ela tem de ato, se não por direito, privilégio exclusivo.
Portanto, na Suíça, como em outros países a igualdade política é apenas
uma ficção pueril, uma mentira.
Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como
pode a burguesia expressar, nas leis e no governo, os sentimentos, as
idéias, e a vontade do povo? É possível, e a experiência diária prova
isto. Na legislação e no governo, a burguesia é dirigida principalmente
por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os
interesses do povo. É verdade que todos os nossos legisladores, assim como
todos os membros dos governos cantonais são eleitos, direta ou
indiretamente, pelo povo.
É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se
tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a
Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a
burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se
encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo,
oprimido pelo trabalho e ignorante da maioria dos problemas, supervisione
as ações de seus representantes? Na realidade, o controle exercido pelos
eleitores aos seus representantes eleitos é pura ficção, já que no sistema
representativo, o controle popular é apenas uma garantia da liberdade do
povo, é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.”
(Bakunin em A Ilusão do Sufrágio Universal, em em Ouvres, Vol. II, 1907.)


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